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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

QUAL A IDADE DO UNIVERSO?

A Ciência e a Bíblia estão em contradição? Acredita mesmo que o mundo tenha 6.000 anos?
E.M.

Visto se tratar do "Velho Testamento" (Tanach), creio que essa resposta seja mais adequada vinda do ponto de vista judaico. Portanto, isso é muito relativo, visto que devo enfatizar que para o judaísmo a importância do calendário judaico e sua observância, baseada no cálculo da idade da criação de aproximadamente 5780 anos, é para o cumprimento das mitzvot (mandamentos) nas datas corretas por todo judeu no mundo, e não para informação científica (o objetivo da Bíblia não é ser um manual de ciência, embora ela com o tempo se mostre cientificamente compatível). Para os judeus, é tudo sobre cumprir mitzvot (mandamentos). Assim, um judeu no Brasil estará cumprindo Yom Kippur e Hosh Hashaná no mesmo dia que um judeu do outro lado do mundo, na China.

O princípio básico judaico de primeiro naassê (fazer) e depois venishmá (entender), ordena a um judeu cumprir os mandamentos de D'us, sem levar em consideração o grau de compreensão, embora naassê (fazer) e venishmá (entender) não estejam em contradição, conforme explica o Rabi Moshê ben Maimon (Maimônides). Mas muitas vezes se cumpre o mandamento sem ainda o entender, e mesmo que cientificamente ele ainda não seja compreensível. Por exemplo, na idade média os judeus cumpriam Netilat Yadaim (lavar das mãos), e evitavam tocar em mortos, enquanto para a maioria dos intelectuais e sábios do mundo isso não passasse de supertição, visto que a ciência da época ainda não tinha conhecimento sobre a microbiologia e transmissão de doenças por micro-organismos. O cumprimento dessas mitzvot poupou judeus de serem contaminados pela peste negra que varreu a Europa, e somente séculos depois a Ciência foi descobrir a importância da higienização, que os judeus já praticavam mesmo sem saber o porquê, pois primeiro naassê (fazer) e depois venishmá (entender).

Durante milênios, judeus foram ridicularizados por acreditar que o mundo começou, até a segunda metade do Século Vinte, quando surgiram provas esmagadoras para o começo do mundo (Big Bang). Como escreve Dr. Arno Penzias (um dos três a receber o Prêmio Nobel por identificar a "radiação de fundo" que se tornou um dos pilares da atual cosmologia do Big Bang), "a ciência finalmente vingou Moshê e Maimônides acima de Aristóteles."

A Torá reconhece o papel da consciência humana como participante ativo, não passivo, na formação da realidade6. Este resultado do modelo padrão da mecânica quântica foi primeiro anunciado por John Von Neumann em 1932.

A Torá, em muitas aplicações haláchicas, confia no "quantum" – os menores incrementos possíveis de mudança dentro do espaço e tempo. Este era o postulado de Max Planck que abriu o campo da Mecânica Quântica.

A Torá entende a psique humana como sendo multifacetada e com diversas camadas – não há apenas uma pessoa lá dentro. Bem-vindo à moderna psicologia.

Avraham foi um dissidente por acreditar que todas as forças do cosmos são na verdade uma única força. Esta é a contenção da ciência pelos últimos 100 anos e a força propulsora por trás da pesquisa para a Teoria do Campo Unificado.

Muito antes de Einstein, o Tanach (Bíblia Hebraica, ou Velho Testamento) já apresentava o princípio da relatividade da observação de acordo com o referencial (Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite - Salmos 90:4), e que podem existir duas ou mais respostas corretas, não excludentes entre si, mas que apenas são observadas por ângulos diferentes. Por exemplo, mesmo admitindo a permanência e a invariabilidade das leis físicas, é preciso entender que uma lei física é determinada uma vez fixados um certo número de parâmetros. Quando os parâmetros variam, a lei tem uma expressão diferente. Não tem sentido afirmar: a água pura ferve a 100 graus Celsius; é preciso acrescentar: quando as condições ambientais correspondem a uma pressão atmosférica de 760 milibares. À pressão de 1,2 atm., 1,5 atm., a água ferverá a uma outra temperatura mais elevada.

Portanto, podemos afirmar que a Ciência avança em direção à Torá, e não que são auto excludentes, mas complementares. Sendo assim, também não deve haver grande discordância entre ciência e Torá acerca da idade do mundo.

Imaginemos um encontro entre Michelangelo — um dos maiores artistas que o mundo já conheceu — e um bem sucedido empresário no campo da informática. Passado o choque da primeira impressão (Michelangelo espanta-se com um misterioso aparelhinho preto que não pára de tocar no bolso do empresário), começam a falar de negócios. Os tempos mudaram, mas as obras primas, diz Michelangelo, têm valor vitalício.

E então, ambos observam uma bela gravura, na qual a clássica casinha de telhado vermelho é rodeada por vastos campos verdes, sob um céu límpido e um sol brilhante. Como estamos na era do "fast.....", discutem o tempo mínimo necessário para reproduzir a mesma imagem. "Um artista ligeiro, de boa mão, consegue fazê-lo em três horas" — diz Michelangelo. Nosso companheiro do século XXI discorda — é capaz de repetir a gravura em 10 segundos!

Bem, quando começamos a raciocinar, calculamos o tempo para fazer o esboço, misturar as tintas, preencher a pintura e ainda dar um toque final. Dez segundos parecem um prazo ridículo!

Mas não é, pois trata-se do tempo da impressão a laser... Desenhar pode ser um trabalho um tanto demorado, mas imprimir ou carimbar são métodos instantâneos, suficientes para resultar numa imagem pronta.

Da mesma forma, observado pelo ângulo da evolução necessária para construir toda a complexidade do Universo, aproximadamente 15 bilhões de anos seria um prazo razoável. Já do ponto de observação divino, sua vontade é imediatamente cumprida instantaneamente, como a impressora a laser reproduzindo a obra de Michelangelo. E o que os nossos sábios dizem? Os dois pontos de observação estão corretos.

Antes da ciência, essa questão é discutida no Sêfer ha-Temunah, um antigo trabalho cabalístico atribuído ao tanaíta (mestre do Talmud) do primeiro século, Rabi Nechunia ben ha-Cana. O Sefer ha-Temunah menciona os Ciclos Sabáticos (shemitot). Esta noção está baseada no ensinamento segundo o qual "o mundo existirá por 6000 anos, e no ano 7000, ele será destruído". O Sêfer ha-Temunah afirma que esse ciclo de 7000 anos é apenas um ciclo sabático. Entretanto, como de acordo com a Torá existem sete ciclos sabáticos no jubileu, o mundo está destinado a existir por 49000 anos. De acordo com esta opinião, o universo teria 42 mil anos de idade quando Adão foi criado.

O Rabino Yitsẖak de Akko (1250-1350) no manuscrito Ozar ha-Hayyim escreve que, uma vez que os ciclos sabáticos existiam antes de Adão, sua cronologia deve ser medida não em anos humanos, mas em anos Divinos. Isso tem conseqüências espantosas, pois de acordo com muitas fontes do Midrash, um dia Divino dura mil anos terrestres e um ano Divino, consistindo de 365 1/4 dias, equivale a 365.250 anos terrestres (Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite - Salmos 90:4).

Assim, de acordo com o Rabino Yitsẖak de Akko, o universo teria 42.000 x 365.250 anos de idade. Isto vem a ser 15.340.500.000 anos, um número muito significativo, considerando que partindo de cálculos baseados na expansão do universo e outros observações cosmológicas, a ciência moderna concluiu que o Big Bang ocorreu há aproximadamente 15 bilhões de anos. Aqui vemos o mesmo número apresentado numa fonte da Torá escrita há mais de setecentos anos! Portanto os sábios judeus já sabiam desde a Idade Média, que observado de um referencial diferente, o mundo teria bilhões de anos para chegar ao estado evolutivo em que se encontra.

Portanto essa discórdia nunca existiu. Tanto rabinos quanto cientistas estão certos. Como Michelangelo e o empresário: fala-se de dois diferentes processos. O primeiro requer tempo e preparo. O segundo aparece de um momento para o outro.

Mas toda essa explicação complexa, só uma entre dezenas de comentários e explicações dos sábios judeus, faz parte do venishmá (entender). O importante, é que no próximo 23 de Kislev (22 de dezembro de 2019) todos os judeus do mundo estarão iniciando as comemorações da festa de Chanucá, seja 23 de Kislev de 15.340.005.780 (cálculos rabínicos), 23 de Kislev de 15.000.005.780 (aproximadamente do Big Bang) ou 23 de Kislev de 5.780 (calendário judaico), estarão todos juntos cumprindo a mitzvah de acender as velas de Chanucá, isso é o naassê (fazer), que mesmo vindo antes, não está em contradição com venishmá (entender).    

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